sexta-feira, agosto 11, 2006

Quarto Escuro

Sinto-me como se tivesse sobrevivido a um desastre de automóvel…dorida, triste mas, viva…e, nem sei se gostaria de ter sobrevivido a todas estas emoções e pensamentos obscuros que sempre atravessaram a minha cabeça. Silêncio..eis o que sou...silêncio, vivo nele, personifico-o, desiludo com ele, afasto com ele..como se eu fosse um quarto escuro, onde toda a gente tem curiosidade para entrar mas, depressa se cansam, pois não se vê luz, não existem janelas. É isso que sou, um quarto escuro. Desinteressante, sem luz, no fundo de mim.. uma porta. Por onde entram pessoas que depressa saem. E, fico fechada, novamente. Um quarto com cheiro a mofo, sem vestígios de alguém que tenha vivido lá tempo suficiente. Sou a divisão abandonada de uma casa cheia de gente. De uma família que vive em frente à minha porta. Que passa e não entra. Sou um quarto escuro de onde ele acabou de sair.

Há dias em que penso: e se eu saísse deste quarto, o que seria de mim? Que restaria desta escuridão? Houvesse luz e eu saberia a resposta....

Sou feliz. Não sou feliz. Que triste ironia do destino! Que triste história tem esta vida!
Apaguei a luz. Matei a esperança, fuzilei o que restava de nós...Fechei a porta ao nosso amor mas ele inundou-me entrando pela janela...Oh meu amor, como tudo isso é tão pequeno comparado com a grandeza do que sinto hoje!
Este quarto escuro só voltará a ter luz, com o teu sorriso, com a tua voz ecoando nas paredes, o teu nome cravado no tecto...
"No meu quarto fico longe
No meu quarto estou tão perto
No meu quarto apago a luz
e pela sombra viajo no deserto"

sábado, agosto 05, 2006

Morre Meu Amor II

Hoje, enquanto choravas e me matavas, devagar devagarinho, pensava: o que é que fizemos ao nosso amor? Para onde foram aqueles dias de felicidade que julgávamos eterna, qual Renato Russo: “Sem saber que o para sempre, sempre acaba?”.. Nós pensávamos que o tínhamos enganado, lembras-te?
Enquanto me apertavas o pescoço e te via cada vez mais enevoado, relembrava Lisboa nossa e de mais ninguém. Para onde quer que fosse, ia contigo no peito. Mesmo perdida, a vaguear sem ter para onde ir.
À medida que me ias sufocando..a mim, a nós, a nós os três. A mim, a ti, ao teu filho dentro de mim, de nós... enfim, à medida que nos ias roubando o oxigénio, pedia-te desculpa, por tudo. Pelas discussões, pela mágoa, pelas vezes que te tentei enganar. Pedia desculpa meu amor, porque sabia que quando me visses morta, a mim e ao nosso filho.. porque, quando nos visses mortos te irias matar também. Genocídio por culpa de uma pessoa só. Matei-nos, matei o nosso amor... Último, último respiro...sinto-me a adormecer. Es a ultima pessoa que vejo, meu (des)amor.

sábado, julho 29, 2006

Morre Meu Amor

I
Liberdade
Oh, meu amor! Será que não percebes que eu não pertenço a ninguém? Sem que isso queira dizer que eu não queira estar contigo, que não te ame, que não seja, enfim...teu.
Eu não posso pertencer a alguém, só porque tenho que me sentir inteiramente livre para poder ser de alguém. Percebes, minha querida?
II
Lábios de Sangue
Tenho ainda os lábios feridos da noite de ontem, quando, com raiva, os mordeste até sangrarem. Como quem não queria que estes lábios voltassem a ser de alguém, como quem os quisesse arrancar e guardá-los para sempre.
É pena que tenhas que dormir com outra pessoa esta noite, quando ainda me sinto dentro de ti, quando ainda tenho as marcas que me deixaste nas costas. É pena que eu tenha que dormir com outra pessoa esta noite, quando ainda penso em ti, quando ainda me sinto teu e tu me sentes teu, ainda que já te sintas de outro.
Quando partiste, ainda saía fumo do cinzeiro, do cigarro que apagaste antes de me dizeres que me odiavas. E eu fiquei a ver o nosso amor perdendo-se nesses anéis de fumo que iam desaparecendo pela janela da sala.
Já não me afecta o facto de estares com alguém, assim como não me afecta eu estar com alguém, enfim, são coisas da vida. Um dia serás apenas uma recordação, um nome que vem à conversa num café qualquer, uma lembrança que surge numa dessas noites de bairro alto. E no fim, sei que serás mais uma memória de bons tempos que já passaram.
Entretanto, estes lábios continuarão a sangrar e as marcas nas costas a arder. Morrerei um pouco por cada dia que passe sem que eu consiga voltar a amar alguém. Contudo, o teu desprezo vai-me tornando mais forte, até que um dia tudo o que reste do meu amor, seja apenas ódio.
Naquela praia deserta e distante
O céu brilhava como eu nunca tinha visto o céu brilhar
Dormi sozinho, no escuro, procurei a minha mãe..
Lábios de sangue,
Lábios de vinho
tinto
que bebemos nas primeiras noites,
das uvas que comemos no florescer daquele amor.
III
Dionísio
O que nós precisamos é de uma grande orgia, de poesia e de música. O que nós queremos é Rimbaud e Kerouac, estradas sem fim. Eu quero orientar o fim!
Uma grande celebração deveria tomar lugar em Lisboa para se festejar o fim de algo tão majestoso.
Lancem os foguetes!! Chamem o circo!
A morte é uma grande alegria dentro de mim! Esta morte será festejada até o dia nascer. Quero ver mulheres belas, nuas, na praia, a dançar com a liberdade nos seus cabelos...Teremos prostitutas servindo sonhos em bandejas, artistas de cabaret em decadência, teremos Brecht e Weill - venham dançar a inconsciência!
Brindemos a este fim, brindemos a esta grandiosa morte! Chamem a orquestra!
Celebrem! O fim está por perto. O fim está no meu coração. A morte alojou-se na minha consciência por tempo indeterminado.
"Quando eu morrer batam em latas,
Rompam aos saltos e aos pinotes,
Façam estalar no ar chicotes,
Chamem palhaços e acrobatas!"
Mario de Sá Carneiro
IV
Requiem
Benvindos à marcha fúnebre do meu amor.
Morre meu amor, que a vida já não espera por nós, que os nossos sonhos se tornaram fantasias apenas...
Morre, meu amor, morre. Que o que era verdade é já hoje mentira, que o que era amor é hoje ódio. Somos agora duas almas separadas e a sangrar, quem sabe, para sempre...mas morre, meu amor, morre que o tempo tudo cura. Deixa-te morrer. Eu já adormeci. Foi como entrar, foi como arder.
Luzes!
LUZES!
Som!
Morte.
Morte.
Morre!
Eu sou tão maior que isto!
Mãe?

Tempo


Ainda vou a tempo, diz-me que sim…que vou a tempo. Sei que ainda posso encontrar o tal lugar...aquele lugar onde me sinto em casa, o lugar personificado em ti,..sei que posso sair deste cubículo, ter a coragem de abracar o teu corpo de mar para sair daqui...se fechar os olhos, sei que posso chegar a ti, ainda te sinto a minha volta... ampara-me, mostra-me q sou capaz. Estou farta de vaguear, de me perder pelas calçadas, de tropeçar, tropeçar enquanto te procuro... ajuda-me a chegar a casa...dá-me apenas um sinal...sei que vou mesmo a tempo...


“Now is the time to follow through, to read the signs Now the message is sent, let's bring it to its final end”